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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Histórias do som 1 - "Ventura"


Som de: Los Hermanos
Ano de lançamento: 2003 
Ano da minha primeira audição: 2003 
Classificação: (acima do ótimo)

Como ser um garoto quase maduro, um hominídeo cidadão num ponto GPS qualquer, no findado ano de 2003 e não se encantar com o lançado “Ventura”, do Los Hermanos ?! Particularmente vinha duma “perca” pelo final do Legião Urbana, órfão de um som e letra que me identificasse, necessitado me encaixar em qualquer poética além livro... Assim Los Hermanos pousou em minha vida, primeiro com o seu “Bloco do Eu Sozinho” (2001) e depois com o outro álbum referido... LH pintou na minha vida no período academicista, eu interiorano morando numa grande cidade, a metrópole que absorvia, tornando-me mais número do que nome. Uma colega me apresentou o som e tornei-me fã no primeiro riff de “A Flor”. A onda do amalgamar rock com MPB, as letras pra lá de poéticas, uma sonoridade ímpar e par ao mesmo tempo, algo que conduzia minha sombra a dançar com alguém, vibrato da alma, carnaval-samba em meu ser falido e nada falado... Era íntimo, parecia resgatado a um afago que só sentia em letras de Renato Russo ou instrumentalizações de Dado e Bonfá... Então fui curtindo a “fossa-alegre” de muitas canções como “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, “Adeus Você”, “Fingir na hora rir” ou “Sentimental”. Poderia também citar outras deste primeiro disco da fase “barbuda” do Los (sem menosprezar o realmente debut dos caras, claro...), como “Pierrot” ou “Assim Será” (que amo de coração !!!), mas vamos nos ater ao “Ventura”, no venturoso ano 03 do século XXI... Bem, já um tanto nutrido do “Bloco...”, vivi a ânsia da espera do trabalho novo dos caras. A questão toda era: “Poderiam eles superar um disco tão bom quanto o anterior?”. Bem, sou leigo – até mesmo amador -, nem chego perto de um bom crítico musical, mas minha verve sempre diz que o “Ventura” é um complemento que se encaixa perfeitamente no “Bloco”, como se o segundo fosse uma peça do quebra-cabeça do primeiro... Podemos até cair num paradoxo: seria o “Ventura” um “Bloco do Eu Sozinho 2” ou o “Bloco” seria um “Ventura antes do 1” ?! Bem, não sou Einstein pra explicar relativismos, mas sou um amante do grupo e me apeguei ao “Ventura” tal qual uma adolescente se agarra ao ursinho de pelúcia ou ao pote de dois quilos de sorvete napolitano depois de levar um pé na bunda: de cara comprovei que “Tá Bom” foi feita pra mim (acreditem: ela é minha !!! Camelo deve ter me seguido e poetizado sobre minha mal fadada vida, juro !!!). Depois fui seduzido pela idéia de que o verdadeiro vencedor era o derrotado que se deleitava com a “glória de chorar”... Passando faixas, cada uma foi me absorvendo e me encantando de alguma forma... Devo ter repetido “Cara Estranho” e “Conversa de Botas Batidas” umas mil vezes !!! (Um P.S: hoje tão banais pros meus ouvidos, imaginei aqui quando elas me eram ainda inéditas e o êxtase de tê-las descoberto... Cara, me arrepia todo !!! Você que curte o som dos caras, tente se lembrar deste momento-sensação e conte de alguma forma pra mim ou pra alguém...) E me caíram lágrimas quando auscultei ainda imaculado “O Velho e o Moço” e “De onde vem a calma”, o duo que mais me emociona e que classifico como as melhores da banda... Meu, não tem como definir “Ventura”, não tem... Só sendo fã contagiado pra saber o arrepio de escutar os primeiros acordes de “Samba a Dois” e fechar o disco com o final apoteótico e épico de “e no final assim/ cansado eu sei/ que vou ser coroado rei de mim...”, seguido dos metais e acordes dos baixos, guitarras, batera e teclado numa sintonia harmônica e surreal... Dizem que o “Ventura” é guiado como a pintura de um quadro – como a descrição explícita de “Além do que se vê”. Bem, acredito nisto também: parece um coletivo regido por Camelo e Amarante, com doces pinceladas e rascunhos, muita inspiração, transpiração e coração... Sei que vou ouvir outros mil sons, descobrir novas influências e batucadas, outras melodias e letras iram me seduzir ou me identificar, mas o “Ventura” é tipo primeiro amor: estaremos diante das micaretas lascivas que a vida nos aventurará, mas quando a taquicardia primal acontece, dificilmente se guiará por amnésias ou abandonos.

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